Não é tão
difícil assim. Saiba o que a ciência já descobriu sobre a alegria
de viver. Lá
se vão mais de 100 dias desde que as primeiras denúncias de
corrupção atingiram o governo Lula e lançaram o País numa espécie
de desencanto coletivo. A vida seguiu, mesmo que entre a lama e o
medo do caos. Mas teve mais. Os furacões Katrina e Rita varreram
casas e vidas.
No Iraque, corpos queimados viraram estandartes. São
tempos difíceis, que nos conduzem a uma inevitável melancolia. Em
meio à tormenta, salvaram-se os bons indicadores econômicos, como a
recuperação da estabilidade, os recordes da exportação e a
primeira queda dos juros em 17 meses. Sinais de que melhores dias
virão e que vamos começar a ser felizes? Para os cientistas
especializados em bem-estar e satisfação pessoal, não poderia
haver sensação mais equivocada. Não podemos condicionar a
felicidade ao futuro.
Pensamos
que seremos felizes depois de trocar de carro, receber aumento,
encontrar um grande amor, reformar a cozinha ou quando nosso time
vencer o campeonato. As recentes pesquisas sobre o assunto dizem o
contrário, que a felicidade está no aqui e no agora. Um grupo de
notáveis, composto pelo psicólogo americano Daniel Gilbert, da
Universidade de Harvard, e pelo Prêmio Nobel de Economia Daniel
Kahneman, da Universidade de Princeton, descobriu que a felicidade
nunca é tão boa quanto se imaginava nem dura tanto quanto se
pensava.
O melhor é que o mesmo princípio vale para a infelicidade,
que não dura para sempre nem é tão nefasta assim. “Erramos ao
tentar prever o que nos fará felizes, seja quando isso significa um
romance, seja quando significa um novo carro ou uma refeição
suntuosa”, explica o professor Gilbert. Ou seja, uma Mercedes na
garagem não vai fazê-lo mais feliz. Nem sapatos Manolo Blahnik,
muito menos uma televisão de plasma. Tudo isso pode exercer
fascínio, trazer conforto, representar uma conquista, mas está
longe de trazer uma sensação permanente de satisfação.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOFiLeBVxmON3AlqfQY6zAC4W1bsGy6cPebWWR2pN1CMTzjVeILHCaavt2trwG-E334cRuXPkDYV5gxpJjXDpYoqOSpRzCfIwFtVdJNQV5o2Dfpp-vyNT3WVoAyoRY9Et-cLuG_KuX90dB/s1600/dinheiro_felicidade.jpg)
Os
quatro requisitos – Definir
felicidade é tão complexo e abstrato quanto decifrar a
insanidade. Desde a Grécia Antiga, os filósofos estabeleceram uma
diferença entre ser e estar feliz. Nos últimos séculos, o tema
mobilizou artistas, pensadores, intelectuais e produziu frases
antológicas. “O segredo da felicidade é encarar o fato de que
o mundo é horrível, horrível, horrível”, resumiu o filósofo
britânico Bertrand Russell, Prêmio Nobel de Literatura. Já Ingrid
Bergman, a atriz de Casablanca,
dizia que “felicidade é ter boa saúde e péssima memória”.
Para os psicólogos, ser feliz é estar bem.
O
psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate vai lançar um livro
sobre o que ele chama de medo da felicidade. Segundo ele, todos
buscam esse estado de espírito privilegiado, mas acabam se desviando
da rota ou se auto-sabotando por desespero. Ele percebe duas maneiras
de pensar a felicidade: uma sensação de paz, compleitude e harmonia
ou uma conquista. “O importante é perceber que a felicidade está
no processo de chegada ao pódio, e não na permanência nele. Uma
pessoa fica feliz ao comprar uma casa, mas esse sentimento se esvai
em três semanas”, diz.
O
psiquiatra propõe que a felicidade seja vista como algo dinâmico.
É, em primeiro lugar, a obtenção de quatro requisitos mínimos:
saúde física, estabilidade financeira mínima, boa relação
afetiva e integração social. A partir dessas conquistas, alcança-se
o ponto de equilíbrio e o que vier é lucro. A felicidade inclui
ainda a auto-estima, o cuidado consigo e os prazeres intelectuais,
como curtir uma boa música, um bom livro, se deleitar com um poema
ou uma idéia nova. “Quem passa a tarde de domingo em frente à
televisão assistindo ao Gugu ou ao Faustão não pode ser plenamente
feliz.”
Enfrentar
os problemas cotidianos já é uma forma de buscar satisfação.
“Felicidade é algo que independe do que está a nossa volta.
Desfrutar e saborear a vida é o nosso maior compromisso. As coisas
ruins também fazem parte da vida e quem aceita isso enfrenta melhor
o sofrimento, sem perder os momentos de alegria”, diz o
psicanalista Luiz Alberto Py. O ser humano tem uma capacidade
inigualável de aceitar e se adaptar. Durante mais de duas décadas,
um psicólogo conhecido como Doutor Felicidade procura as motivações
que levam as pessoas a se sentirem satisfeitas com a vida. Professor
da Universidade de Illinois, o americano Edward Diener notou que os
mais bem realizados eram aqueles que se cercavam da família, dos
amigos e, mais importante, sabiam perdoar.
Dinheiro
– A
partir de um questionário com apenas cinco perguntas, Diener avaliou
o índice de satisfação dos americanos. Mostrou, entre outras
coisas, que assim que são atendidas as necessidades materiais
básicas a renda financeira faz pouca diferença. “A relação
entre dinheiro e felicidade é muito forte, mas tem limite. Quando a
renda é maior do que US$ 10 mil por ano – cerca de R$ 2 mil por
mês –, essa relação deixa de existir e o dinheiro deixa de ser a
chave para a felicidade”, explica o economista Eduardo Gianetti da
Fonseca.
“O
dinheiro em si não traz felicidade, traz condições para a pessoa
ser feliz, assim como um corpo saudável dá as condições para se
ter uma vida mais feliz. O resto é estar em paz consigo e com a
vida”, diz Rodrigo Loures, presidente da Federação das Indústrias
do Estado do Paraná (Fiepr). “No mundo dos negócios, é a
oportunidade de cada pessoa dar o melhor de si. Uma empresa rígida
não tem o mesmo brilho que uma empresa criativa e feliz”, afirma
Loures, que é diretor da Nutrimental, das barras de cereais Nutry.
O
que parece consenso entre os cientistas é o efeito positivo da
espiritualidade. Tanto que os neurocientistas estudam os efeitos da
fé no cérebro de monges budistas que praticam várias horas diárias
de meditação. Estudos mostram que a satisfação ocorre quando as
pessoas estão absortas em atividades que as façam esquecer de si
mesmas, perder a noção de tempo e deixar as preocupações de lado.
É quase uma sensação de fluir, segundo o psicólogo húngaro
Mihaly Csikszentmihalyi, da Universidade de Claremont.
Há
30 anos, ele, que é um dos papas no assunto, explora tal estado
mental de plenitude. “O mais óbvio componente da felicidade é a
concentração intensa, que é a razão principal para a música, a
arte, a literatura e o esporte sobreviverem”, diz. A melhor receita
é enfrentar os desafios. “A única solução para se conseguir
felicidade é buscar novas oportunidades para melhorar suas
habilidades como pessoa e como profissional”, diz.
Uma
tendência atual é a chamada “psicologia positiva”, que valoriza
os talentos e as qualidades de cada um em vez das fraquezas. As
pessoas em paz buscam crescimento pessoal, julgam a si e seus
talentos sem se comparar com os outros. O resto é uma questão de
respeitar – e valorizar – as diferenças.
É você é feliz? Você sabe a formula da felicidade? deixe seu comentário. Aqui sua opinião faz toda a diferença