"
Eu
sei que nos acostumamos. Mas não devíamos.
Acostumamo-nos
a morar em apartamentos de fundos, e a não ter outra vistaque
não as janelas em redor.
E
porque não temos vista, logo nos acostumamos a não olhar lá para fora.
E
porque não olhamos lá para fora, logo nos acostumamos a não abrir de todoas
cortinas.
E
porque não abrimos as cortinas logo nos acostumamos a acender cedo a luz.
E à
medida que nos acostumamos, esquecemos o sol, esquecemos o ar,esquecemos
a amplidão....
Acostumamo-nos
a acordar de manhã sobressaltados porque está na hora.
A
tomar o café a correr porque estamos atrasados.
A ler
o jornal no autocarro porque não podemos perder o tempo da viagem.
A
comer uma sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é
noite.
A
dormitar no autocarro porque estamos cansados. A deitar cedo e dormirpesado
sem termos vivido o dia.....
Acostumamo-nos
a esperar o dia inteiro e ouvir ao telefone: hoje não posso ir.
A
sorrir para as pessoas sem recebermos um sorriso de volta.
A
sermos ignorados quando precisávamos tanto ser vistos.
Acostumamo-nos
a pagar por tudo o que desejamos e o que necessitamos.
E a
lutar, para ganhar o dinheiro com que pagar esses desejos e essas necessidades.
E a
pagar mais do que as coisas valem.
E a
saber que cada vez pagaremos mais.
E a
procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar....
Acostumamo-nos
à poluição.
Às
salas fechadas, de ar condicionado e cheiro a cigarro. À luz artificial.
Ao
choque que os olhos sofrem com luz natural.
Às
bactérias na água potável.
Acostumamo-nos
a coisas demais, para não sofrermos....
Em
doses pequenas, tentando não perceber, vamos afastando uma dor aqui, um ressentimento
ali, uma revolta acolá....
Se a
praia está contaminada, molhamos só os pés e suamos no resto do corpo.
Se o
cinema está cheio, sentamo-nos na primeira fila e torcemos um pouco o pescoço.
Se o
trabalho está difícil, consolamo-nos a pensar no fim-de-semana.
E se
no fim-de-semana não há muito o que fazer, deitamo-nos cedo e ainda
ficamos
satisfeitos porque temos sempre o sono atrasado.
Acostumamo-nos
para não nos ralarmos com a aspereza, para preservar a pele.
Acostumamo-nos
para evitar feridas.
Acostumamo-nos
para poupar a vida. Vida que aos poucos se gasta, e que gasta
de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.
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Eu
sei que nos acostumamos. Mas não devíamos.
Acostumamo-nos
a morar em apartamentos de fundos, e a não ter outra vistaque
não as janelas em redor.
E
porque não temos vista, logo nos acostumamos a não olhar lá para fora.
E
porque não olhamos lá para fora, logo nos acostumamos a não abrir de todoas
cortinas.
E
porque não abrimos as cortinas logo nos acostumamos a acender cedo a luz.
E à
medida que nos acostumamos, esquecemos o sol, esquecemos o ar,esquecemos
a amplidão....
Acostumamo-nos
a acordar de manhã sobressaltados porque está na hora.
A
tomar o café a correr porque estamos atrasados.
A ler
o jornal no autocarro porque não podemos perder o tempo da viagem.
A
comer uma sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é
noite.
A
dormitar no autocarro porque estamos cansados. A deitar cedo e dormirpesado
sem termos vivido o dia.....
Acostumamo-nos
a esperar o dia inteiro e ouvir ao telefone: hoje não posso ir.
A
sorrir para as pessoas sem recebermos um sorriso de volta.
A
sermos ignorados quando precisávamos tanto ser vistos.
Acostumamo-nos
a pagar por tudo o que desejamos e o que necessitamos.
E a
lutar, para ganhar o dinheiro com que pagar esses desejos e essas necessidades.
E a
pagar mais do que as coisas valem.
E a
saber que cada vez pagaremos mais.
E a
procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar....
Acostumamo-nos
à poluição.
Às
salas fechadas, de ar condicionado e cheiro a cigarro. À luz artificial.
Ao
choque que os olhos sofrem com luz natural.
Às
bactérias na água potável.
Acostumamo-nos
a coisas demais, para não sofrermos....
Em
doses pequenas, tentando não perceber, vamos afastando uma dor aqui, um ressentimento
ali, uma revolta acolá....
Se a
praia está contaminada, molhamos só os pés e suamos no resto do corpo.
Se o
cinema está cheio, sentamo-nos na primeira fila e torcemos um pouco o pescoço.
Se o
trabalho está difícil, consolamo-nos a pensar no fim-de-semana.
E se
no fim-de-semana não há muito o que fazer, deitamo-nos cedo e ainda
ficamos
satisfeitos porque temos sempre o sono atrasado.
Acostumamo-nos
para não nos ralarmos com a aspereza, para preservar a pele.
Acostumamo-nos
para evitar feridas.
Acostumamo-nos
para poupar a vida. Vida que aos poucos se gasta, e que gasta
de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.
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Essa é uma das maiores verdades do mundo, nus acostumanos a tudo com medo do sofre.
ResponderExcluirDE:MARIA
Agradecemos pela sua participação Maria. Continue sempre conosco!
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